Definitivamente,
o empreendedor sul-africano Elon Musk não veio ao mundo a passeio.
Há dez
anos, nos primórdios da criação da Tesla Motors, Musk descreveu assim o seu
objetivo com a empresa: “produzir um carro elétrico atraente o suficiente para
conquistar os consumidores mais exigentes”. O propósito final era acelerar a
transição para um mundo livre dos combustíveis fósseis que estão “nos
fritando”.
Para
atingir tal efeito, ele publicou o Grande Plano Secreto da Tesla — que, apesar
do nome, estava consolidado num documento de duas páginas que propunha quatro
metas: construir um supercarro elétrico esportivo; com o dinheiro gerado,
construir um modelo mais acessível; e, com o dinheiro destes, produzir um
modelo mais barato para produção em larga escala. Para completar, em paralelo,
produzir opções de geração elétrica com zero emissão de carbono.
Desde
então, a empresa lançou um carro esportivo de US$ 120 mil, um sedã de US$ 70
mil (considerado por muitos o melhor carro já produzido em série) e,
recentemente, um novo modelo de US$ 35 mil, que, apesar da previsão de entrega
no fim de 2017, já tem encomendas de mais de 500 mil unidades (inclusive no
Brasil). Enquanto produzia os veículos, a empresa criou uma divisão de energia
que está erguendo a maior fábrica do planeta (a primeira de uma série) para
produzir baterias em grandes volumes. Por fim, acaba de incorporar a SolarCity,
a maior empresa de energia solar dos EUA (da qual Musk também é o maior
acionista).
Quando lançou
o plano, foi muito criticado pela ambição desproporcional. Tanto por imaginar
que poderia construir um carro elétrico para competir com carros convencionais,
quanto por achar que poderia alterar a demanda de petróleo produzindo veículos
particulares e caros.
Pois Elon
acaba de lançar o seu Grande Plano — Parte II, com quatro estratégias: criar
sistema de geração elétrica solar harmonicamente integrado com bateria;
expandir o portfólio de veículos elétricos e autônomos para todos os segmentos,
inclusive e principalmente transporte de carga (caminhões) e transporte público
(ônibus); desenvolver sistema de piloto automático pelo menos dez vezes mais
seguro que direção manual; e viabilizar que o carro se torne um gerador de
receita quando o proprietário não está utilizando. Pelo histórico do moço, são
grandes as chances de o plano dar certo.
O Brasil
deveria estar de olho. O setor de transporte é uma de nossas principais fontes
de emissões de gases de efeito estufa e a principal fonte de poluição do ar nas
cidades. Veículos autônomos e elétricos no transporte público e de cargas podem
revolucionar a mobilidade e a qualidade de vida nas cidades. Parece ficção
científica, mas é bem real. Está logo ali.
Publicado em O Globo em 27.07.2016