Provocar chuva não é propriamente uma
novidade. Os primeiros registros de experiências modernas para semear nuvens
ocorreram no inicio do século XX, foram consolidados na década de cinquenta e
atualmente são utilizadas com certa regularidade em mais de vinte países.
Em geral o processo se baseia em
pulverizar formações de nuvens com produtos químicos tais como iodeto de prata,
iodeto de potássio ou acetona que induzem ou aceleram o processo de aglomeração
e condensação provocando a precipitação em um local desejado. É um tema
certamente polêmico, tanto pela eficácia (diferentes estudos mostram variação
entre 10 e 30%) quando pelo potencial de perda de controle ou mesmo de provocar
danos como enchentes ou secas em áreas vizinhas.
No Brasil o que torna este tema particularmente
interessante são dois personagens de épocas distintas: Frederico de Marco (1885-1960)
e Takeshi Imai (1944-2013).
Frederico de Marco foi um medico,
pesquisador e inventor que viveu em Araraquara e chegou a ser indicado ao
Prêmio Nobel de Física. Promoveu diversos experimentos e inventos em áreas
distintas como transmissão de energia sem fio, novas técnicas cirúrgicas e o
conceito do telegrafo sem fio. Mas ficou conhecido mesmo por fazer chover fazer
chover. Embora tenha realizado os primeiros experimentos em 1914, foi em 1940
que promoveu a primeira chuva induzida no Brasil pulverizando nuvens com iodeto
de prata. A técnica criada por Frederico foi patenteada nos EUA no final da
década de 40 e ele nunca se beneficiaria de seu invento. Dizia que suas
invenções eram para uso universal.
Takeshi Imai, engenheiro mecânico e
inventor formado no ITA ficou conhecido nacionalmente quando no inicio dos anos
70 desenvolveu um método de pulverização para controlar a ferrugem que dizimava
cafezais do Brasil. Nos anos 80 desenvolveu uma série de motosserras mais
rápidas e potentes do que as existentes até então. Ao ver um jacarandá de 250
anos sendo derrubado pelo seu invento resolveu mudar de rumo. Dedicou os
últimos 20 anos de sua vida a tecnologias para beneficio publico. Neste período
criou uma forma nova e surpreendente de semear nuvens e provocar chuva a partir
da pulverização de água potável, eliminando assim o uso de produtos químicos. A
empresa que criou, hoje operada pelos filhos Marjory e Ricardo, opera com
regularidade na região metropolitana de São Paulo e em regiões de produção
agrícola sensíveis de estados como Mato Grosso e Maranhão.
Em tempos distintos Frederico e Takeshi
tinham em comum a curiosidade, a dedicação e o espírito fazedor que os permitiu
estar a frente de seu tempo para criar inovações de amplo espectro e uso. Mas ambos
também têm em comum o fato de serem considerados como personagens excêntricos e
curiosos ao promoverem seus inventos mais ousados ao invés de reconhecidos como
grandes empreendedores.
O Brasil tem dezenas de exemplos como
estes de inventores e inovadores que em sua fase mais produtiva não são
identificados, reconhecidos e estimulados. As vezes eles simplesmente padecem
sem que seu potencial tenha frutificado, outras, quando tem oportunidade,
buscam outros países para seguir seu caminho.
Precisamos estar atentos para aqueles
que pensam, raciocinam e agem de forma pouco usual e ousada. Assim como as
nuvens, precisamos semear os estímulos para que estes gênios criativos possam
ir mais longe, aglutinando ideias, condensando conceitos e precipitando
inovações de impacto para o Brasil e o mundo.
Publicado em Época Negócios em Agosto/2016