Em ano de eleições tem se tornado comum as más notícias para o meio ambiente e 2018 tem sido particularmente cruel. Nas ultimas semanas fomos bombardeados por péssimas noticias. Os números oficiais no INPE ainda não foram publicados, mas os dados do sistema SAD publicado pelo Imazon apontam que o desmatamento na Amazônia aumentou 39% entre agosto de 2017 e julho de 2018 em relação ao mesmo período do ano anterior.
Já o SIRA-X, programa de monitoramento de desmatamento do ISA na Bacia do Xingu detectou a 2 mil campos de futebol de desmatamento dentro da das Terras Indígenas (TIs) Apyterewa e Ituna/Itatá, ambas no Pará, no mês de agosto, oito vezes o que havia sido verificado no mês anterior.
Um estudo do Instituto Centro e Vida (ICV) feito com base nos dados oficiais do Estado do Mato Grosso apontou que nada menos do que 98% do desmatamento do Cerrado no estado é ilegal, ou seja, não tinha autorização valida para ser realizado. Imaginava-se que a ilegalidade no Cerrado fosse menor que na Amazônia mas pelo jeito é igual ou pior, pelo menos em MT.
A violência contra ativistas ambientais e lideranças comunitárias também aumentou nos últimos 3 anos. A Global Witness divulgou os dados de assassinatos de ambientalistas no mundo em 2017 e o Brasil novamente lidera a vergonhosa lista com 57 mortes.
Existe luz no fim do túnel. O IBAMA, sem alarde, montou um portal para divulgação das bases de dados de licenciamentos, multas, embargos, guias de transporte de madeira e outros dados fundamentais para monitorar as atividades que podem causar dados ambientais. Seus efeitos logo começarão a ser sentidos. O Ministério Publico Federal criou uma força tarefa de procuradores na Amazônia para investigar crimes ambientais na região, nos moldes da Lava Jato. O IBGE divulgou os dados da Pesquisa Agrícola Municipal que indica que a valor da produção de Açaí – que mantem floresta em pé - ultrapassou os R$ 5 bilhões em 2017, quase um terço do valor da produção nacional de café em grão.
As eleições caóticas que se aproximam podemos ir de um extremo ao outro. Como mostrou estudo do Observatório do Clima, nas candidaturas a Presidência temos num extremo a quase barbárie, com proposta de deixar o Acordo de Paris, desregulamentar do setor ambiental, liberar agrotóxicos na base da canetada e rever todas as áreas protegidas. Do(s) outro(s) lado(s) a proposta de zerar o desmatamento, demarcar todas as terras indígenas, bombar as energias renováveis, promover o mercado de carbono e realizar no Brasil a próxima conferencia de clima.
Podemos viver o inferno ou uma revolução sustentável. A resposta estará na urnas em outubro.
Publicado em O Globo em 26.09.2018