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terça-feira, 1 de setembro de 2015

MME começa a olhar para o sol

Na sexta feira 28.08 foi realizado o segundo leilão exclusivo para sistemas solares de geração de energia elétrica.  Foram contratados 31 projetos de geração solar com potencial de 834 MW e uma geração média esperada de 231 MW o que é energia suficiente para abastecer uma cidade do tamanho do Rio de Janeiro.

O preço médio foi R$ 302 /MWh o que apresentou um deságio de 13,5% em relação a preço inicial R$ 349/MWh.

Embora mais alto que os preços da energia eólica e hidroelétrica, o valor alcançado já se aproxima de valores competitivos com energia de usinas termoelétricas a carvão. E a tendência é de queda. pelo menos pelos próximos 10 anos.

Em recente seminário realizado no MME em Brasília, o presidente da EPE, Mauricio Tomasquim, ampliou de 3.000 para 7.000 MW o potencial de geração solar instalado no Brasil até 2024. Embora ainda acanhada a mudança da projeção indica que a EPE finalmente começa a levar a sério o potencial solar do Brasil.


Fonte: CCEE, organizado por AcendeBrasil

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Leitura Obrigatória

Um esforço de quatro anos envolvendo 360 pesquisadores de universidades e centros de pesquisa brasileiros produziu o primeiro Relatório Nacional de Avaliação do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (RAN 1/PBMC). O relatório se parece muito em formato, conteúdo e método com o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e traça um quadro das mudanças climáticas em curso no Brasil e seus impactos. E indica nossas vulnerabilidades e as necessidades de adaptação e aponta caminhos para o Brasil contribuir para a mitigação através do crescimento de baixo carbono.

O RAN — ou pelo menos o seu sumário executivo — deveria ser leitura obrigatória nas faculdades e universidades, nos escritórios de engenharia, arquitetura, construção e agronomia, nos consultórios médicos e hospitais, nos ministérios e secretarias de Energia, Planejamento, Economia, Agricultura e Meio Ambiente e por todo interessado em politicas públicas de longo prazo para o bem-estar e a sustentabilidade do país.

As mudanças climáticas afetam todas as regiões do país com implicações econômicas, sociais, ambientais, política e culturais marcantes e com consequências para a evolução de praticamente todas as profissões.

Os extremos climáticos estão desafiando séries históricas de várias décadas tanto em temperatura do ar como precipitação, ventos, períodos de seca, umidade do ar e outras dezenas de aspectos. Perguntas como onde, quando e que variedade plantar de café ou milho ou qual o nível sustentável de captação de água de um reservatório estão cada vez mais difíceis de responder com base nestas séries históricas estacionárias. Os cenários apresentados pelo RAN 1 e o IPCC mostram que precisamos considerar séries não estacionárias mesmo considerando todas as suas incertezas.

Os engenheiros, economistas, biólogos e toda sorte de profissionais têm que passar a considerar de forma sistemática os cenários de mudanças climáticas no processo de planejamento, implementação, manutenção e restauro de infraestrutura, serviços e sistemas produtivos no Brasil.

A leitura atenta destes relatórios e o aprofundamento do conhecimento das várias áreas apontadas pelos pesquisadores — como impacto das mudanças do regime de chuvas sobre produção de energia e oferta de água para agricultura e para o consumo humano — são condição fundamental para reduzir a vulnerabilidade e ampliar a resiliência do Brasil frente às mudanças do clima.

Publicado em O Globo em 28.01.2015

quarta-feira, 30 de abril de 2014

De Vento em Popa



A evolução da expansão da energia eólica nos últimos 15 anos é um bom indicador da revolução energética que se descortina. Entre 2000 e 2013 toda a capacidade instalada de geração elétrica eólica subiu de 17 GW para 318 GW, ou seja a capacidade foi aumentada em 18 vezes em 13 anos.  Apenas em 2013 foram instalados 37 mil MW, cerca de 5 vezes o que foi instalado de novas hidroelétricas.

Segundo o Global Wind Report  em 2014 serão instalados um recorde de 47 GW de energia eólica e as projeções são de alcançar 600 GW em 2018. Na China a meta é alcançar 220 GW instalados até 2020 (em 2014 já chegará em 100 GW), o que deve representar até 10% da capacidade instalada de  geração de energia elétrica no país.

Embora grande parte dos 6.000 GW da capacidade instalada de geração elétrica ainda seja predominantemente baseada em combustíveis fósseis  (em especial carvão e gás), as fontes renováveis já representaram  mais da metade da capacidade energética instalada no mundo em 2013, com destaque para solar e eólica, que juntas responderam por mais de 70 GW instalados (metade de toda capacidade acumulada de geração elétrica no Brasil, incluindo todas as hidroelétricas).

A energia eólica, que até o ano 2.000 representava 0,5% da capacidade global, em 2013 representou 6% da capacidade instalada e caminha para chegar a 10% em 2020 e 20% em 2035.

Diferentes estudos apontam que o potencial global de geração eólica, considerando um fator de capacidade de 20%, pode chegar a 40 vezes a demanda atual de energia de todo o planeta. Como sempre está ventando em algum lugar do globo, não é difícil imaginar que a interligação continental de sistemas elétricos (assim como acontece com gás) permitirá multiplicar rapidamente a participação da energia eólica na matriz elétrica global. 

E engana-se quem imagina que este fonte de energia é movida a subsídios. Muito pelo contrário. Na Europa, por exemplo, em 2013 os subsídios para geração eólica foram da ordem de US$ 2 bilhões contra US$ 421 bilhões para o petróleo.

O Brasil é o país que tem o maior crescimento de geração eólica na América Latina, mesmo que ainda tímido em relação ao potencial. Depois de resistir por anos a investir nesta fonte, no final de 2009 o governo realizou o primeiro leilão exclusivo para eólicas e o sucesso foi tamanho, que em 2013 os leilões de eólica voltaram a ser exclusivos, desta vez para dar chance as outras fontes (inclusive fósseis) nos leilões abertos.  Paradoxos de um país que insiste em andar na contramão.


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Vai sobrar petróleo - parte II

Na semana passada, sugeri em minha coluna no jornal O Globo que, nas próximas décadas, a demanda vai cair e vai sobrar petróleo e que, portanto, o imenso investimento que o Brasil faz nesta fonte de energia, no momento, poderia se tornar um mico.
Recebi vários e-mails comentando o artigo com perguntas e solicitações de mais elementos para sustentar minha “previsão”. Em geral, os leitores acharam que fui otimista demais, quase fazendo uma aposta.
Não sou futurólogo, mas apenas observo as evidências de transformação em curso. O mundo está se eletrificando porque é a forma mais eficiente de gerar, transportar, distribuir e consumir energia. De 1973 a 2011, a proporção da energia elétrica na matriz energética global dobrou, passando de 9% para 18% do uso de energia no planeta. No mesmo período de 30 anos, a participação do petróleo da geração de energia elétrica caiu de 24% para 4,5% e cresceu a participação das energias renováveis, do carvão e do gás. O uso do petróleo na geração de energia elétrica está se tornando marginal.
O principal uso do petróleo é no transporte, seguido do uso industrial e, por fim, sua utilização em prédios e construções (residenciais ou comerciais). Quase 60% do petróleo produzido no mundo é consumido pelo setor de transportes. Esse setor passa por transformações importantes nos padrões de eficiência, que já começam a surtir efeito no consumo de combustível, inclusive no país do automóvel – os EUA. Lá, o consumo de combustíveis para automóveis vem caindo desde 2009. Por outro lado, esse consumo para transporte nas economias emergentes continua a crescer.
Mas a principal revolução em curso no setor de transporte são os carros elétricos. Nos últimos dois anos, os avanços na produção dos veículos elétricos se mostrou super desrruptiva, quebrando vários tabus. Os carros elétricos da última geração são melhores que os automóveis a gasolina/diesel/álcool, em praticamente todos os aspectos: segurança, desempenho , economia, conforto, espaço etc. Mesmo no quesito autonomia, os veículos elétricos já estão se aproximando dos veículos a combustão e, dentro de poucos anos, já os suplantarão. Da mesma forma que não faz sentido comprar um carro que não seja flex no Brasil (uma invenção com pouco mais de 10 anos), em 15-20 anos não fará sentido não comprar carros elétricos, que vão dominar o mercado de carros novos.
Este mesmo fenômeno vai chegar ao transporte rodoviário de carga e de passageiros. Deve demorar um pouco mais, mas é inexorável pois os custos serão significativamente menores que os meios atuais e esta será a opção óbvia para os sistemas públicos e privados de transporte.
No caso da indústria, segundo maior usuário energético do petróleo, está em curso uma enorme transformação por conta do gás de xisto, que apresenta custos extremamente competitivos. As emissões de gases de efeito estufa (GEE) nos EUA estão caindo justamente por conta da substituição de petróleo e carvão por gás. A produção de gás de xisto avança também na Europa e no Canadá e começa a ser considerada em outras partes do mundo.
Resta a indústria petroquímica, especialmente de fertilizantes, plásticos e matérias-primas para indústria química. Este é o campo onde a revolução ainda não chegou, embora dezenas de bem sucedidas experiências avancem, como os plásticos produzidos a partir de biomassa (cana de açúcar) ou as biorefinarias.
No comércio e nas residências (terceiro principal uso do petróleo como energético), o mais importante fator de transformação é a penetração da energia solar que avança de forma galopante num ritmo sequer imaginado há 10 anos. Com a contínua queda de preços dos painéis fotovoltaicos e a chegada de novas tecnologias como os vidros semitransparentes fotovoltaicos – previstos para serem lançados comercialmente em larga escala dentro nos próximos anos -, a bola de neve vai se tornar uma avalanche.
Existem vários outros sinais, mas talvez um dos mais interessantes seja a enormidade de investimentos em curso no Oriente Médio em energia solar e eólica, bem como sistemas de armazenamento e gestão da distribuição de energias renováveis. Eles já visualizaram que o futuro está no domínio destas fontes.
E, assim, volto ao ponto levantado no primeiro artigo: por razões ambientais, sociais, tecnológicas e econômicas, a demanda por petróleo será reduzida e isso tem consequências importantes para o debate das prioridades de investimento no desenvolvimento do Brasil. Investir quase 1 trilhão de dólares na indústria do petróleo, e ainda a milhares de metros de profundidade no oceano, pode sim se transformar num tremendo mico.

Publicado em Planeta Sustentável - 04/02/2014

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Um mundo cada vez mais eletrificado

Discutimos em posts anteriores o grande desafio para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) no planeta de modo a limitar o aumento da temperatura média global.
Se o limite de 2ºC, definido em 2009 no Acordo de Copenhague for o parâmetro a ser perseguido, as emissões anuais médias de carbono não devem ultrapassar 11GtCO2 por ano até o final deste século. É um desafio e tanto já que, hoje, as emissões globais alcançam 52GtCO2eq.
O principal contribuinte para as emissões de gases de efeito estufa é o setor de energia que emite cerca de 31GtCO2/ano. Mesmo considerando que todos os outros setores reduzam a zero as suas emissões, o setor energético terá que reduzir suas emissões a menos de 1/3 das  atuais para que possamos cumprir as 11GtCO2 médias do orçamento de carbono até o final do século.
É um tremendo desafio, especialmente se considerarmos que, antes de meados do século, a demanda por energia vai dobrar. Ou seja, temos que dobrar a capacidade de oferta de energia com zero de emissões e ainda reduzir 2/3 das emissões da capacidade já instalada.
Para enfrentar este dilema há cinco linhas clássicas de ação, possíveis e já em desenvolvimento:
1. Promover a racionalização/redução do consumo;
2. Reduzir perdas no processo de geração-distribuição-consumo;
3. Aumentar a eficiência energética dos equipamentos e sistemas;
4. Promover fontes renováveis de energia (com emissão baixa ou nula) e
5. Estabelecer tecnologias de sequestro/captura de carbono para as fontes fósseis.
Porém, uma das transformações mais importantes em escala, que podem mudar o jogo, é a progressiva eletrificação do planeta. A eficiência do processo de produção/geração, armazenamento, transporte/transmissão e consumo da energia é significativamente maior por meio de sistemas elétricos do que de motores a combustão.
Por exemplo, o motor a gasolina de um carro transforma em movimento cerca de 15% da energia contida no combustível. Se o mesmo combustível for queimado em uma usina térmica moderna e abastecer um carro elétrico, o aproveitamento mais do que dobra, dada a eficiência do motor elétrico.
Por outro lado, a multiplicação rede elétrica acoplada a sistemas de armazenamento (ex. baterias, células de hidrogênio, soluções salinas etc) permite que se utilize mais fontes de energia intermitentes como solar e eólica. Um grande sistema de bateria pode ser programado para funcionar como um sistema descentralizado de armazenamento de energia (que pode fazer o papel de reservatório de hidroelétricas).
Uma outra vantagem é que, neste caso, a eletricidade pode ser transmitida a grande distâncias com baixíssimas emissões. Sistemas interligados além fronteiras podem viabilizar a produção de energia onde houver as melhores oportunidades de geração renovável e sustentável estejam presentes.
Difícil prever o que acontecerá com a energia no futuro, mas é desejável e provável que qualquer que seja o caminho ele deve passar pela intensificação da eletrificação do planeta.